terça-feira, agosto 31, 2021

A doença

 

Foto: Paulo Francis - 2020


Nunca morei longe do meu país.
Entretanto padeço de lonjuras.
Desde criança minha mãe portava essa doença.
Ela que me transmitiu.
Depois meu pai foi trabalhar num lugar que dava essa doença nas pessoas.
Era um lugar sem nome nem vizinhos.
Diziam que ali era a unha o dedão do pé do fim do mundo.
A gente crescia sem ter outra casa ao lado.
No lugar só constavam pássaros, árvores, o rio e os seus peixes.
Havia cavalos sem freios dentro dos matos cheios
de borboletas nas costas.
O resto era só distância.
A distância seria uma coisa vazia que a gente portava no olho
E que meu pai chamava exílio.

6 comentários:

José Carlos Sant Anna disse...

Tropeçar no exílio todos os dias é aprender a chorar nos próprios ombros, Sol.
Um belo poema!
Abraços, Sol!

J.P. Alexander disse...

Bello y triste poema dejar a quien amas debe ser muy doloroso. Te mando un beso

Juvenal Nunes disse...

O ser humano, na sua essência, lida mal com a distância.
Abraço amigo.
Juvenal Nunes

J.P. Alexander disse...

Bello poema te hace pensea

Graça Pires disse...

Sei, como o nosso poeta, o que é padecer de lonjuras...
Cuida-te minha Amiga.
Uma boa semana.
Um beijo.

A.S. disse...

Viver no mundo...e afastado dele!
Não consigo imaginar como será...

Uma boa semana!
Abraço!