domingo, julho 04, 2021

8 - O poste

 


Fomos rever o poste.

O mesmo poste de quando a gente brincava de pique e de esconder.

Agora ele estava tão verdinho!

O corpo recoberto de limo e borboletas.

Eu quis filmar o abandono do poste.

O seu estar parado.

O seu não ter voz.

O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com as mãos.

Penso que a natureza o adotara em árvore.

Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos de passarinhos

que um dia teriam cantado entre as suas folhas.

Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos.

Mas o mato era mudo.

Agora o poste se inclina para o chão como alguém

que procurasse o chão para repouso.

Tivemos saudades de nós.


(Em Poemas rupestres)