quarta-feira, dezembro 19, 2018

AUTORRETRATO

* Hoje é aniversário de nascimento de Manoel de Barros!!!
Imagem: Projetos Mudas de Igreja

Ao nascer eu não estava acordado, de forma que
Não vi a hora.
Isso faz tempo.
Foi na beira de um rio.
Depois eu já morri 14 vezes.
Só falta a última.
Escrevi 14 livros.
E deles estou livrado.
São todos repetições do primeiro.
(Posso fingir de outros, mas não posso fugir de mim.)
Já plantei dezoito árvores, mas pode que só quatro.
Em pensamento e palavras namorei noventa moças,
mas pode que nove.
Produzi desobjetos, 35, mas pode que onze.
Cito os mais bolinados: um alicate cremoso, um
abridor de amanhecer, uma fivela de prender silêncios, 
um prego que farfalha, um parafuso de veludo, etc etc.
Tenho uma confissão: noventa por cento do que
escrevo é invenção; só dez por cento que é mentira.
Quero morrer no barranco de um rio: - sem moscas
na boca descampada!

terça-feira, dezembro 11, 2018

O palhaço

Gostava só de lixeiros crianças e árvores
Arrastava na rua por uma corda uma estrela suja.
Vinha pingando oceano!
Todo estragado de azul.

[Manoel de Barros]

in: Matéria de Poesia



* Foto: Eu, de palhaça Borboleta


* Dia 10/12, ontem, foi dia do palhaço.