segunda-feira, novembro 22, 2021

O menino que ganhou um rio


Minha mãe me deu um rio.
Era dia de meu aniversário e ela não sabia o que me presentear.
Fazia tempo que os mascates não passavam naquele lugar esquecido.
Se o mascate passasse a minha mãe compraria rapadura
Ou bolachinhas para me dar.
Mas como não passara o mascate, minha mãe me deu um rio.
Era o mesmo rio que passava atrás de casa.
Eu estimei o presente mais do que fosse uma rapadura do mascate.
Meu irmão ficou magoado porque ele gostava do rio igual aos outros.
A mãe prometeu que no aniversário do meu irmão
Ela iria dar uma árvore para ele.
Uma que fosse coberta de pássaros.
Eu bem ouvi a promessa que a mãe fizera ao meu irmão
E achei legal.
Os pássaros ficavam durante o dia nas margens do meu rio
E de noite eles iriam dormir na árvore do meu irmão.
Meu irmão me provocava assim: a minha árvore deu flores lindas em setembro.
E o seu rio não dá flores!
Eu respondia que a árvore dele não dava piraputanga.
Era verdade, mas o que nos unia demais eram os banhos nus no rio entre pássaros.
Nesse ponto nossa vida era um afago!


(Memórias inventadas para crianças)

* Imagem: Rio Mondego, Figueira da Foz, Portugal.

Em homenagem a minha amiga, a poeta Graça Pires, fã do Manoel de Barros, que faz aniversário hoje.

sábado, novembro 13, 2021

13 de novembro - aniversário de morte do poeta

 

“Eu não caminho para o fim, eu caminho para as origens”

*Quando Manoel de Barros recebeu a Revista Caros Amigos, em 2008, em sua casa.