sexta-feira, março 15, 2019

Manoel de Barros e os entulhos necessários ao poema

Por Fábio Pessanha, na Revista Vício Velho, em 13/03/2019

Trechos:


“escombros” é uma imagem forte na poética de manoel de barros. talvez seja toda uma poética dotada de restos e do que não tem serventia, do que na prática se pratica pela inutilidade – o inutensílio que é mais que objeto, que é também um lugar.

(...)

o poema que traz a gente a essa prosa é um exercício de recomeços. diria até que seria uns pertences desconexos que se juntam ao que desde sempre fora um núcleo repartido, mas ao mesmo tempo vigente na locução de seus conflitos.

(...)

XI.
coisinhas: osso de borboleta pedras
com que as lavadeiras usam o rio
pessoa adaptada à fome e o mar
encostado em seus andrajos como um tordo!
o hino da borra escova
sem motor ACEITA-SE ENTULHO PARA O POEMA
ferrugem de sol nas crianças raízes
de escória na boca do poeta beira de rio
que é uma coisa muito passarinhal! ruas
entortadas de vaga-lumes
traste de treze abas e seus favos empedrados
de madeira sujeito com ar de escolhos inseto
globoso de agosto árvore brotada
sobre uma boca em ruínas
retrato de sambixuga pomba estabelecida
no galho de uma estrela! riacho com osso de fora
coberto de aves pinicando
suas tripas e embostando de orvalho
suas pedras indivíduo que pratica nuvens ACEITA-SE
ENTULHO PARA O POEMA moço que tinha
seu lado principal caindo água e o outro lado
mais pequeno tocando larvas!
rã de luaçal
(...)
entulha-se tudo que pode, inclusive o que a princípio não poderia. mas aqui no poema, não há censura que o impeça de ruir contiguidades esperadas pelo comum das vozes normalmente bem aceitas. embora estejamos aqui na parte XI, o poema se compõe de XV partes, e nelas é possível se perceber a potência do inútil ou ainda da palavra como repositório de existências...
(...)
Leia o texto integral aqui na Revista Vício Velho.