segunda-feira, junho 21, 2021

"Nadifúndios"

 



V

Eles enverdam jia nas auroras.

São viventes de ermo. Sujeitos

Que magnificam moscas — e que oram

Devante uma procissão de formigas…

São vezeiros de brenhas e gravanhas.

São donos de nadifúndios.

(Nadifúndio é lugar em que nadas

Lugar em que osso de ovo

E em que latas com vermes emprenhados na boca.

Porém.

O nada destes nadifúndios não alude ao infinito menor

de ninguém.

Nem ao Néant de Sartre.

E nem mesmo ao que dizem os dicionários: coisa que

não existe.

O nada destes nadifúndios existe e se escreve com letra

minúscula.)

Se trata de um trastal.

Aqui pardais descascam larvas.

Vê-se um relógio com o tempo enferrujado dentro.

E uma concha com olho de osso que chora.

Aqui, o luar desova…

Insetos umedecem couros

E sapos batem palmas compridas…

Aqui, as palavras se esgarçam de lodo.


* Em: O Guardador de águas.

Um comentário:

Graça Pires disse...

Pois os nadifúndios serão dos insectos dos bichos, dos pássaros, das flores... Sempre tão original o nosso poeta. Gostei da ideia.
Cuida-te bem, minha Amiga.
Uma boa semana.
Um beijo.