quarta-feira, setembro 07, 2016

Narciso - Eu e Manoel

Narciso de Waterhouse
“As palavras têm sedimentos. Têm boa cópia de lodo, usos do povo, cheiros de infância, permanências por antros, ancestralidades, bosta de morcegos etc. não vou encostar as palavras, etc. pois elas são meus espelhos. Sou o narciso delas”[Manoel de Barros]

Narcisista

Como aprender a me achar
Sem me perder?
O reflexo não me explica,
Apenas me consome
E me prende.

Uno-me tanto a mim
Que meus átomos se juntam
Ao meu reflexo.

Como Narciso,
Acho-me
No reverso, no inverso,
No espectro que me devora.

Quando me perco,
É quando me encontro.

Solange Firmino


Paisagem

A céu aberto,

O espelho líquido Reflete a pedra.

Incrustada na própria imagem,
A pedra faz-se dupla,
Imagem de Joel dos Santos
Colada ao céu,
Fincada na água.

Fosse a pedra Narciso,
O lago não seria tão fundo.

Solange Firmino




2 comentários:

Luís Palma Gomes disse...

Gostei muito. Tenho um parecido.

Luís Palma Gomes disse...

O meu poema:

ESTADO DE SÍTIO
===============

Se permanentemente me fujo
e combato:

Quando é que sou?

Se serei já outro,
Quando porventura me responder:

Quando é que sou?

Se sou tantos e tantos outros,
Que jamais poderei julgar alguém,
sem me condenar também:

Diz-me, ó Céu, Quando é que sou?