sábado, fevereiro 02, 2008

Canção do ver



Por viver muitos anos
dentro do mato
Moda ave
O menino pegou
um olhar de pássaro -
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava
as coisas
Por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra. E tal.
As palavras eram livres de gramáticas e
Podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar as pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em um abelha, era só abrir a palavra abelha
e entrar dentro dela.
Como se fosse infância da língua.


Um comentário:

Marta Otto disse...

Comentar palavras de Manoel de Barros é mais difícil que tentar ousar como ele.
Faz mágicas com a simplicidade, jamais alguém ousará como ele, não haverá outro semelhante em qualquer tempo. Simples e grandioso como a natureza das palavras.