sexta-feira, abril 22, 2022

A gente passeava nas origens

 


A gente foi criado no ermo igual ser pedra.
Nossa voz tinha nível de fonte.
A gente passeava nas origens. Bernardo conversava pedrinhas
com as rãs de tarde.
Sebastião fez um martelo de pregar água
na parede.
A gente não sabia botar comportamento
nas palavras.
Para nós obedecer a desordem das falas
Infantis gerava mais poesia do que obedecer
as regras gramaticais.
Bernardo fez um ferro de engomar gelo.
Eu gostava das águas indormidas.
A gente queria encontrar a raiz das
palavras.
Vimos um afeto de aves no olhar de
Bernardo.
Logo vimos um sapo com olhar de árvore!
Ele queria mudar a Natureza?
Vimos depois um lagarto de olhos garços beijar as pernas da Manhã!
Ele queria mudar a Natureza?
Mas o que nós queríamos é que a nossa
palavra poemasse.

2 comentários:

Graça Pires disse...

Manoel de Barros é mesmo o Poeta da despalavra. "Para nós obedecer a desordem das falas
infantis gerava mais poesia do que obedecer as regras gramaticais". Magnífico e inspirador! É um gosto lê-lo sempre.
Cuida-te bem, minha Amiga.
Um beijo.

SILO LÍRICO - Poemas, Contos, Crônicas e outros textos literários. disse...

DEUS SALVE AS MÃES!
Só mãe dá à luz de amor.
Ser mãe é ser e ente
À imagem ao Criador,
Reproduz – semente.

FELIZ DIA DAS MÃES! Laerte