terça-feira, dezembro 08, 2020

A natureza era inocente

 


Aquele homem falava com as árvores e com as águas

ao jeito que namorasse.
Todos os dias
ele arrumava as tardes para os lírios dormirem.
Usava um velho regador para molhar todas as
manhãs os rios e as árvores da beira.
Dizia que era abençoado pelas rãs e pelos
pássaros.
A gente acreditava por alto.
Assistira certa vez um caracol vegetar-se
na pedra.

mas não levou susto.
Porque estudara antes sobre os fósseis linguísticos
e nesses estudos encontrou muitas vezes caracóis
vegetados em pedras.
Era muito encontrável isso naquele tempo.
Até pedra criava rabo!
A natureza era inocente.

Um comentário:

Graça Pires disse...

A sua dedicação aos poemas de Manoel de Barros é maravilhosa. E eu adoro passar por aqui.
Continua a cuidar-te bem, minha querida Amiga Solange.
Um beijo.