Assistam "Agramática", Manoel de Barros por ele mesmo:
"Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença
delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
-Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável,
o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da
vida um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em
estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores
surpresas e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de agramática.
“O Livro das Ignorãças”
2 comentários:
O Manoel de Barros era um sábio. E o padre Ezequiel também…
Adorei ouvir e ver o vídeo, minha querida Amiga Solange.
Um beijo.
Olá, querida Solange!
Que delícia de post e de vídeo, que transmite o texto. Adorei as paisagens do clip.
Se calhar, o Padre Ezequiel tinha razão e ainda hoje tem.
Realmente, nos desvios à Norma, se encontram "coisas" fantásticas, totalmente escalenas -rs. Agramática é uma tentação e uma delícia.
Beijinho e bom domingo!
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