Fomos rever o poste.
O mesmo poste de quando a gente brincava de
pique e de esconder.
Agora ele estava tão verdinho!
O corpo recoberto de limo e borboletas.
Eu quis filmar o abandono do poste.
O seu estar parado.
O seu não ter voz.
O seu não ter sequer mãos para se pronunciar
com as mãos.
Penso que a natureza o adotara em árvore.
Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos de
passarinhos
que um dia teriam cantado entre as suas
folhas.
Tentei transcrever para flauta a ternura dos
arrulos.
Mas o mato era mudo.
Agora o poste se inclina para o chão como
alguém
que procurasse o chão para repouso.
Tivemos saudades de nós.
(Em Poemas rupestres)